A CASA FEITA DE SONHOS



A casa feita de sonho Texto de Ricardo Alberty




Leve como uma pluma,
Alta como uma torre,
Quente como um ninho
E doce como o mel.
Assim imaginei
desde pequeno
a minha casa...
Mais tarde, quando me encontrei só no
mundo, como não tinha dinheiro, resolvi
construí-la com as próprias mãos. Fiz primeiro a
minha casa de papel, que é um material barato.
E assim que ficou pronta, vieram todos os
ventos da Terra e levaram a minha casa de
papel, leve como uma pluma...
Fiquei sem casa, mas não desisti. E fiz a
Minha casa à beira-mar, com areia da praia, que
É um material barato.
Mal estava pronta, vieram todas as marés do
mundo e levaram a minha casa de areia, alta
como uma torre...
Tive vontade de desistir,
mas eu precisava de uma casa, e sobretudo
não podia abandonar o meu sonho.
E resolvi fazer a minha casa de madeira, que
é um material barato. Cortei-a dos bosques,
com as próprias mãos! Ficou linda!... Escondida
entre a folhagem...
Mas ainda mal a tinha acabado, vieram todos
os fogos do céu e queimaram a minha casa de
madeira, quente como um ninho...
Chorei sobre as cinzas, como se chora uma
pessoa querida que morreu.
Mas, mesmo assim, não desisti. E resolvi fazer
a minha casa de açúcar...
Mas o açúcar não é um material barato! Não é.
Mas eu precisava
de uma casa,
e sobretudo não podia
abandonar o meu sonho...
Trabalhei, lutei,
passei fome,
para juntar
o açúcar suficiente...
E quando a minha casa estava pronta - eram
de açúcar as paredes, o chão, o teto, os móveis,
as portas e as janelas - vieram todos os
bichos da Terra e devoraram a minha casa de
açúcar, doce como o mel...
Fiquei sem casa. E desisti de construí-la
com as próprias mãos...
Perguntaram-me onde moro... Onde moro eu?
Sei lá!... Vou pelo mundo, aqui, além, no
Bosque, à beira-mar... Perguntam-me se não
tenho casa... Tenho, sim! Eu podia lá
abandonar o meu sonho!...
Resolvi imaginá-la. Num lugar onde não
chega o vento, nem o mar, nem o fogo, nem os
bichos da Terra.
Fiz a minha casa com o meu próprio sonho.
Ficou linda!
Leve como uma pluma, alta como uma torre,
Quente como um ninho e doce como o mel...

O texto, logo no início, mostra muita sabedoria e uma grande dose de romantismo, quando o personagem fala de sua casa ser comparada, através da imaginação, à doçura do mel, ao aconchego do ninho, à grandiosidade da torre e à beleza da pluma.
A solidão o incomoda, pois menciona um fato subjugado do tempo, quando usa a expressão adverbial “mais tarde”. Ele enfatiza a solidão no emprego do verbo encontrar e a expressão “só no mundo” e completa a extensão do seu problema na informação de não ter dinheiro, o que é um mal da sociedade, não somente dele. Como não pode resolver essa questão social e política, ele volta para si mesmo e tenta construir a casa com seus próprios recursos e seu próprio saber.
Ele começa a colocar seus planos em dia, usando o papel, que mostra logo, logo a sua fragilidade diante dos ventos da Terra. Embora triste pela sua idéia não ter dado certo, ele mostra o valor do seu objetivo na persistência enfatizada pelo verbo desistir aliado à força negativa do advérbio “não”. E ele continua na sua peregrinação em busca do seu teto, uma exigência do homem desde os primórdios tempos da civilização.
A segunda opção foi a areia e ele declara que opção se deve à certeza do baixo custo, mostrando, assim, que o fator econômico é o que mais preocupa o homem em sua trajetória social. A casa foi levada pelas marés, apesar de ter sido construída tão alta como uma torre. A sua persistência sofre um pequeno abalo e isso está claramente refletido na expressão “tive vontade de desistir, mas o objetivo de construir a casa é mais forte e a realização do sonho é maior ainda.”
Preocupado ainda com o fator econômico, ele decidiu construir a casa de madeira. É enfático ao tentar passar a mensagem de que ele usa seu próprio corpo, sua própria força para realizar seu sonho. Uma pontinha de Narcisismo, característica do homem moderno, aparece refletida na expressão “Ficou linda!”.
A inteligência e a sabedoria, aliadas aos conhecimentos e vivências sociais modernas o fazem decidir pelo esconderijo. Baseado nas experiências anteriores em que perde seus tetos, ele decide se esconder dos perigos que ameaçam sua casa, se valendo da força e do poder da natureza. Ele só não se lembrava de que esse pider estava abaixo do poder destruidor do fogo. A explicação desse poder está bem representada pela expressão “fogos do céu”. Nesse contexto, o céu, reforça a idéia de poder sobre os “ventos da Terra”, “marés do mundo” que foram declarados nas experiências anteriores. A persistência sofre, desta vez, um forte abalo. Ele usa o verbo “chorar” para demonstrar a sua tristeza e indignação. Nota-se que usa a personificação, quando dá sentido de humanização à madeira, que é representante fiel do ecossistema que envolve a Natureza. A morte é uma explicação para o final de tudo.
Ele retoma a idealização de seu sonho com mais força, apesar dos abalos e das decepções sofridas. A determinação da retomada está refletida na negativa do verbo “desistir”, reforçado pelo valor decisivo do verbo “resolver”. Ele reinicia a caminhada em busca do seu objetivo pensando não só no econômico, mas também na necessidade de realizar seu sonho. A experiência não foi tão agradável assim. A doçura do açúcar reflete toda ternura com que ele se refere à casa construída com seu trabalho, com sua luta e com sua fome. A decepção e a tristeza tomaram conta de seu coração e a persistência sofreu um abalo maior do que das vezes anteriores. O verbo “desistir”, nesse contexto, reflete toda a dor do perder, do ficar sem a casa. A preposição sem reflete o vazio sentido pelas pessoas que sofrem perdas inseparáveis. Nota-se que a preposição sem tomou um certo valor social nos últimos tempos do homem moderno. Em algumas situações ela chega a se substantivar na expressão: “Os sem terra estão acampados...”
Não é difícil entender o sentimento da frustração, que se apossa do homem e do seu sonho. E ele vagueia, vaguia, vargueia... Ele é um sem teto que vai pelo mundo do “sei lá!...” Os advérbios aqui e além, as expressões adverbiais no bosque e à beira-mar conseguem passar a idéia da viagem sem rumo do homem. O uso abusivo das reticências dão um sentido maior à idéia de sem morada, sem objetivo... mas não sem sonho!
O homem resolveu se proteger dos ataques do vento, do mar, do fogo e dos bichos da Terra usando um recurso inalcançável por quaisquer que sejam as adversidades. Ele usou sua própria imaginação e o material de construção utilizado foi o seu próprio sonho: “leve como uma pluma, alta como uma torre, quente como um ninho e doce como o mel!”.





Hoje em meio aos estudos diários deparei-me com o Texto A Casa Feita de Sonhos. Poético, lindo, emocionante, comovente e de uma linguagem simples, todavia especial. Consegui compreender o texto, consegui traçar metas, consegui pensar em metodologias para utilização com turmas de Educação Infantil, mas fiquei terrivelmente maravilhada com a análise encontrada no sitehttp://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno03-10.html

O texto do autor Ricardo Alberty pode ser lido em nossa Galeria do Texto infantil no seguinte link 
A análise que encontrei pode ser lida logo abaixo da figura.
Boa leitura

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ORIGEM DA FAMILÍA LOUZADA

ALMÍSCAR - Animal, vegetal e artificial

SUBSTANTIVOS COLETIVOS