Eu saindo para baladas?
Não freqüento bares nem casas noturnas. O som bate-estaca me neurotiza.Se você me vir às três da manhã circulando pela cidade, não buzine que é sonambulismo. O máximo que me atrevo a fazer fora de casa, antes da meia-noite, é ir num restaurante, num teatro, num café. Coisa rápida,indolor. Não conheço o Opinião, o Elo Perdido, o Dr. Jekyll, o Santa Mônica, o Lei Seca, o Notredame.
Ajudem-me a voltar para o meu planeta.Só gosto de festas ocasionais, alusivas a alguma data e de preferência que não caiam no sábado. Open-houses, jantares para pequenos grupos,festas de casamento, aniversários, lançamentos de livros, reveillon.Festas onde não é preciso fazer fila para entrar. Festas em que você escuta o que as pessoas estão falando. Festas em que você não sua. E, principalmente, festas que não precisam de mapa para chegar.Festa em sítio, para mim, soa como cativeiro. Minhas mãos começam a tremer diante daqueles convites aparentemente ingênuos para um churrasquinho no domingo. Local: Estrada da Mata Fechada, sem número.Vide verso. Você vide e encontra um emaranhado de riscos e flechas indicando estradinhas vicinais, pontes pênseis, terra batida, valões,quebra-molas e instruções que arrepiariam até um veterano do Paris-Dakar:"Saindo do km 56 da freeway, pegue a estrada que leva para Glorinha. Na terceira figueira entre à esquerda e siga 7 km até encontrar o Armazém do Vado. Circunde o armazém e dobre à direita na bifurcação. Siga mais11 km até encontrar uma cerquinha branca, vire à direita de novo e dirija mais 9 km até o açude. Aí é só cruzar a porteira, deixar o carro ao lado do galpão e seguir à pé os 2 km que faltam, de preferência sem fazer barulho para não acordar as cascavéis" .Diversão, para mim, tem um significado menos bucólico. É sair de casa com a garantia de, no caso de um contratempo, poder chamar um táxi. É ir a um lugar onde haja ar-condicionado, champanhe gelado e banheiros limpos. É encontrar um manobrista na porta, dois ou três amigos que assegurem
boas risadas e um garçom que vá com a sua cara. É dançar, sair à francesa e chegar em casa a tempo de ver a última entrevista do Jô. E,na manhã seguinte, mandar flores para os anfitriões, agradecendo o fato de você ter sobrevivido sem cortes e arranhões.
Martha Medeiros
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